quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Comprometimento com as causas humanitárias

Não acho que [se comprometer com causas humanitárias] seja algo que cabe aos intelectuais. Acho que isso cabe aos cidadãos de maneira geral. Se atribuímos funções ou missões particulares ou especiais aos intelectuais, arriscamo-nos a cair em algo que não é bom: achar que algumas poucas pessoas, não se sabe por quê, têm uma função determinada, que seria dizer aos outros: “É por aqui que temos de ir, vocês estão errados indo por aí”. Não, quem faz isso é a Igreja. O intelectual tem que ser crítico, mas tem que ser crítico não pelo fato de ser intelectual — ou sim, um pouco, pois tem uma responsabilidade —, mas porque o senso crítico deveria ser algo que todos os cidadãos teriam. O que ocorre é que, se o intelectual se compromete com essa causa ou outras, então o fato de ele ser um escritor torna sua intervenção mais visível, faz com que sua palavra chegue mais adiante, mais longe.
José Saramago, in As palavras de Saramago

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