domingo, 19 de novembro de 2017

A chave

Os nunca assaz finados parnasianos tinham, antes de mais nada, a chave de ouro. Como o resto do soneto era tapado como uma porta — por que não mostravam apenas o raio da chave? Não estou brincando. Pois nos meus tempos de ginasiano eu também fabriquei a minha chavezinha de ouro:
... de uns verdes buritis a cismadora tribo”.
Confesso que não consegui colocar nada antes deste verso. Hoje acho que não seria preciso, que ali já estava todo um poema... Em todo caso, cedo em cartório a chave aos últimos sonetistas alexandrinos, a quem muito venero, pois no caos de hoje em dia eles têm consciência de que, para fazer um poema, é preciso trabalhar como um escravo. Com a única recompensa do trabalho feito. Vamos, minha gente? Faltam apenas treze versos.
Mário Quintana, in A vaca e o hipogrifo

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