segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A língua mais difícil do mundo?

Quantas vezes você já ouviu que nossa língua é a mais complicada que existe? Bobagem. O português é uma das línguas mais fáceis do mundo, isso sim.
Claro que depende do ponto de vista: aprender sueco, por exemplo, é moleza para quem fala dinamarquês. Mas um ranking elaborado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos (do ponto de vista dos falantes de inglês, portanto) situa nossa língua no grupo um, o dos idiomas acessíveis em que se pode ficar fluente com até seiscentas horas de estudo. Na mesma categoria estão francês, italiano e espanhol. No extremo oposto, o grupo quatro, o tempo de ralação sobe para 2200 horas. Ali estão árabe, mandarim, coreano e japonês.
Quanto à mania brasileira de achar que o português é mais difícil que engenharia espacial, é como diria um velho professor rabugento:
Português não é difícil, você é que estudou pouco!

De onde tiraram isso?
Baseada provavelmente na dor de cabeça real que acomete estrangeiros diante da arquitetura barroca de nossos verbos, a afirmação dispensa a necessidade de prova. O sujeito erra o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a desculpa universal:
Também, como é difícil a porcaria dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses!
Isso não quer dizer que o queixoso saiba holandês. É na imensa parcela monoglota da população que a crença na dificuldade insuperável do português encontra solo mais fértil. Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar latim, alemão, húngaro, russo e japonês. Ninguém precisa ter encarado uma declinação — vespeiro do qual a gramática portuguesa nos poupou — para deplorar o desafio invencível da crase.
O mito das agruras superlativas do português diz muito sobre a falência educacional brasileira.
Sérgio Rodrigues, in Viva a língua brasileira!

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