quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Juízos moral e religioso

O juízo moral tal como o juízo religioso baseia-se em realidades que não o são. A moral é unicamente uma interpretação de certos fenômenos, dito de forma mais precisa, uma interpretação falsa. O juízo moral, da mesma forma que o religioso, corresponde a um grau de ignorância ao qual ainda falta o conceito do real, a distinção entre o real e o imaginário: de tal forma que, a esse nível, a palavra “verdade” designa simplesmente coisas a que nós hoje chamamos “imaginações”. O juízo moral, por conseguinte, não deve ser tomado nunca à letra: porque tal constituiria unicamente um contra-senso. Porém enquanto semiótica, não deixa de ser inestimável: revela, pelo menos para o entendido, as realidades mais valiosas das culturas e dos espíritos que não sabiam o bastante para se “compreenderem” a si mesmos. A moral é meramente um falar por sinais, meramente uma sintomatologia: há que saber já de que se trata para obtermos proveito dela.
Friedrich Nietzsche, in Crepúsculo dos Ídolos

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