sábado, 23 de setembro de 2017

III.39

A vida toda é um relicário itinerante,
uma precária coleção de alumbramentos
se apavorando, enquanto as pétalas do instante
vão-se arrancando, enquanto soltam-se nos ventos,

braços abertos, os relâmpagos violentos
do amor. Ah, a interminável noite em que o diamante
cai e estilhaça-se entre abraços, entre o amante
e a coisa amada, ah, a doce fábula em fragmentos!

Aquele amor, aquela noite perfumada
que se esbatia contra asas da alvorada,
foi todo assim, um delicado amontoamento

de aparições, Alexandria, e, fragmento
a fragmento, estilhaçavas na calçada
nossos cristais, fabulações do teu fermento.
Bruno Tolentino

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