quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O nome roubado


A ditadura do general Pinochet muda os nomes de vinte favelas, casas de lata e papelão, nos arredores de Santiago do Chile. No rebatismo, Violeta Parra recebe o nome de algum militar heróico. Mas seus habitantes se negam a usar esse nome não escolhido: eles são Violeta Parra ou não são nada.
Faz tempo, numa unânime assembléia, tinham decidido se chamar como aquela camponesa cantora, de voz gastadinha, que em suas canções briguentas soube celebrar os mistérios do Chile.
Violeta era pecante e picante, amiga do violeiro e da viola e da conversa e do amor, e por dançar e gracejar deixava queimar suas empanadas. Gracias a la vida, que me ha dado tanto, cantou em sua última canção; e uma reviravolta de amor atirou-a na morte.
Eduardo Galeano, in Mulheres

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