quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A imortalidade nasce das cinzas

A exata glória é a póstuma, a que nenhum dente rói, e que só desce sobre um nome depois da ressurreição intemporal do seu possuidor. Todos sabemos que a imortalidade do poeta lhe nasce das cinzas. Mas o artista enquanto vive é homem. Rege-o tanto uma lei de cima como uma lei de baixo. E por isso, pela transitória fama entre meia dúzia de condicionados contemporâneos, é capaz de matar um irmão. Velhos e novos prestam nesta triste luta as mesmas armas e as mesmas unhas. Os velhos querem guardar os louros; os novos querem tirar-lhos das mãos. E sem haver a mais pequena esperança de paz entre as duas forças. É da própria natureza dos contendores que nenhum ceda. A sofreguidão é tanto da fisiologia senil, como da infantil…”
Miguel Torga, in Diário (1943)

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