terça-feira, 28 de junho de 2016

Castelo de ego

Entro no bradesco, retiro a senha, sento numa cadeira e espero chegar a minha vez. Abro um livro de contos do Rubem Fonseca e saco que duas garotas estão me olhando. “não é possível. será que fiquei bonito depois de velho? que droga essa garotada tá usando?” penso na minha, viro a página do conto “O cobrador” e converso baixinho comigo mesmo “esse velho tem uma usina de ódio dentro de si. Rubem Fonseca é um dos velhos que mais soube trabalhar a raiva na narrativa ficcional brasileira” aí o cochicho das duas aumenta. “vai lá com ele. a professora não vai acreditar!” olho para os lados achando que tem algum astro teen perto de mim, mas só vislumbro velhos tristes e aposentados implorando por empréstimos. “vou lá, peraí. me dá uma caneta e um papel” diz a mais afoita com os olhos castanhos e cabelo parecido com a da falecida cantora de jazz Amy Winehouse. “oi, você poderia me dar um autógrafo? minha professora adora seus livros. Minha mãe também gosta.” “que bom! sou mais lido por mulheres mais jovens. Elas tem mais sensibilidade que homens. vou fazer o seguinte: vou dedicar um poema pra sua professora, tudo bem?” escrevo um poeminha bonitinho e assino embaixo “com carinho… diego moraes” entrego o papel, a minha senha apita no guichê e escuto a outra dando um puxão de orelha na sósia da Amy: “Falei que não era ele! falei que o Milton Hatoum é branco e muito mais velho”. O gerente me dá bom dia e sinto um castelo de ego desmoronando dentro de mim.
Diego Moraes, in ursocongelado.tumblr.com

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