domingo, 30 de agosto de 2015

Acerca de poemas religiosos

Levei ao Dr. Kafka uma antologia tcheca de poemas religiosos franceses.
Ele folheou um momento o pequeno volume, depois empurrou-o cautelosamente em minha direção fazendo-o deslizar sobre a mesa.
- Este gênero de literatura é um estímulo requintado que não me agrada. A religião está derramada aí num alambique de onde só ressalta o esteticismo. O que é um meio de dar sentido à vida torna-se um estimulante, um objetivo decorativo e pretensioso como são, por exemplo, as cortinas luxuosas, quadros, móveis esculpidos ou autênticos tapetes persas. A religião desse gênero de literatura é um esnobismo.
Aprovei: - Tem razão, a guera produziu substitutivos até no domínio da fé. É esse gênero de literatura. Os poetas se apoderam da ideia de Deus como de uma bonita gravata na moda.
Sorrindo, Kafka veio em minha direção e acrescentou:
- E essa gravata é simplesmente uma corda que eles botam no pescoço. Como toda vez que utilizamos a transcendência como escapatória.
Gustav Janouch, in Conversas com Kafka

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