quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sobre mulheres, ácaros e formigas

A cultura patrimonial e a linguagem de divulgação são os álibis da nossa hegemonia, considerando que o dinossauro morreu porque era um dinossauro e as formigas nos sobreviverão, mas escravas de uma lógica cavernícola que as impedirá de lutar contra os ácaros e contra as mulheres. Vão ganhar os ácaros. Sinto muito pela formiga e pelas mulheres, mas as duas alternativas avançam prepotentes numa ausência de vontade de poder, as formigas, ou numa denúncia da masculina vontade de poder, as mulheres. Sarcástica mentira, principalmente para o velho catedrático que testemunhou cinquenta anos de ascensão de suas colegas femininas, com uma capacidade de dentadas e rasteiras perfeitamente masculina, quando não usaram os peitos ou as bocetas, de que também carecem quase todos os homens. Sinto muito, sou misógino. Mas as mulheres não vão conseguir derrotar os ácaros. Os ácaros suportam até a bomba de nêutrons e não precisam se fantasiar de outra coisa para permanecer no ar ou nos nossos pulmões. Estão em toda parte. São Deus. Repetem o poder do invisível para criar ou desfazer o visível.”

Manuel Vázquez Montalbán, in Erec e Enide

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