terça-feira, 30 de setembro de 2014

A eterna e monótona novidade


Imagem: Google

Foi assim que Euclides da Cunha fotografou a seca. Eterna porque independe da ação humana, fenômeno natural com registro no passado, atestado no presente e previsível no futuro. Monótona porque vem em ciclos, repetidamente; de fácil constatação. E novidade por conta da incompetência gerencial do poder político, que faz da seca uma surpresa a cada ano.
Em casos mais graves, nem é incompetência. É cumplicidade política, onde a seca serve para produzir mais riqueza pra quem já é rico e aprofundar mais miséria para os que continuam pobres. Essa prática é também uma novidade eterna e monótona.
Até um órgão com a denominação estúpida de “contra a seca” foi criado. E o pior: de “obras contra”… De lá pra cá, o mesmo ritual de remendos e assistencialismo. Onde o vício dessa “arrumação” encontrou agasalho no poder e nos “favorecidos”. O poder caridoso de um povo mendicante.
Não consigo ver uma ação governamental que pelo menos saia do ramerrão continuado. A transposição do São Francisco? É tão antiga e distante que mais parece piada. Só não é uma piada, porque já derramou e pôs dinheiro público em canos e canais vazios. Essa sim, a transposição de grana do bolso do povo para a botija de empresas e empreiteiras. Tudo devidamente licitado, ao sabor da burocracia.
Vejamos alguns aspectos dessa monumental mentira. Em primeiro lugar é de se constatar o desgaste do próprio São Francisco. Nascentes agonizantes e matas mortas. Seja pela estupidez dos nativos dessas regiões, seja pela falta de fiscalização do Governo e das chamadas entidades de defesa do meio ambiente. O Governo encastelado nos “negócios” políticos. As entidades ambientais vendendo ilusões nas salas refrigeradas e nas luzes da mídia. Muita picaretagem e pouca ação.
Outra constatação. A água que por ventura aqui chegue dessa transposição, será insuficiente para estancar esse processo perverso das relações com a seca. Fossem suficientes as águas de um rio, ao passar numa cidade ou comunidade, não haveria miséria nas cidades ribeirinhas onde passa o São Francisco. Só aí já se desmoraliza a propaganda enganosa.
Há soluções pequenas e pontuais, que mesmo não resolvendo o problema geral, podem atenuar bastante os efeitos da seca.
Vejamos uma. Os açudes e açudecos, das pequenas e médias propriedades, inclusive nas beiras das estradas, estão assoreados. Com menos da metade de sua capacidade de acúmulo. Todo ano, nesta época, eles estão secos e se oferecendo para uma solução. Qual? A dragagem. Coisa que um pequeno trator, com uma escavadeira, aprofundará dois ou três, num dia, dependendo da distância. Refaz o porão e com o material retirado, reforça a parede. Onde se acumulava água por seis meses, passará ao dobro, com reserva para um ano. Fácil e simples. Todo ano, eu repito isso aqui.
Eterna sacanagem. Monótona patifaria. Enrugada novidade. Té mais.
François Silvestre, in Novo Jornal, de 28/09/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário