domingo, 23 de março de 2014

Arrancaram os olhinhos do cavalo

ARRANCARAM OS OLHINHOS DO CAVALO

Jean, filho de Paulo de Bolé, foi outro brincalhão que ficou na estória da cidade, levava a vida a fazer anarquia e presepada. Essa quem me contou foi a sua irmã Jane. Ela disse que certo dia, bem cedinho, um cidadão entrou na venda de seu pai, brabo que só a “capota choca”. Paulo estava dormindo e quem o atendeu foi dona Josefa.
O homem, muito nervoso, falando alto, disse que veio cobrar o prejuízo que teve com o seu cavalo, uma vez que Jean tinha arrancado os dois olhos do animal. Dona Josefa ficou estupefata. Sabia que o filho era os pés da besta, mas chegar a esse ponto tinha passado dos limites. Pediu ao homem que tivesse calma; assim que o marido acordasse resolveria o problema. E ficasse certo de que o filho iria levar uma surra daquelas.
Nem bem Paulo tinha se levantado, chegou o oficial de justiça com uma intimação pra ele se apresentar na Delegacia às três horas da tarde. Indagou da esposa o que danado teria feito. Pessoa pacata, único exagero que praticava era de vez em quando tomar umas nove mais dezesseis. Foi então que a mulher relatou o acontecido de uma hora antes. “Mas por que o homem não veio me procurar novamente? Eu teria resolvido o caso sem precisar dar parte”. Às três horas lá estava ele cara a cara com o queixoso, justamente na frente do Tenente Vasco, que pra seu desespero foi um dos delegados mais brabos que Bom Jardim já teve.
Diz o homem da lei: “quer dizer então que o seu filho, um menino com dez anos, cometeu uma proeza dessas? Estou curioso pra conhecer esse anjinho pessoalmente”. Virando-se para o queixoso, perguntou: “e seu cavalinho, por acaso está vivo ou morreu?”
- Doutô, o cavalo é de pau e pertence ao meu carrossel! (seu Araújo era dono de um carrossel).
Não prestou não!
Vasco deu um murro na mesa e disse: “Minha vontade era lhe dar uma dúzia de bolos e depois lhe meter no xadrez! Como é que você me ocupa e me faz perder tempo por causa dos olhos de um cavalo de pau?”
E dispensou os dois, pra satisfação do réu que, depois de um susto daqueles, nem a surra prometida deu no filho: e de vingança não pagou os olhinhos do cavalo.
Bráulio de Castro, in www.bestafubana.com.br

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