domingo, 24 de fevereiro de 2013

Retrato do Brasil poético

Uma antologia recém-publicada na França reúne mais de cem brasileiros, ao longo de 1.500 páginas, num largo painel do País, que vai do século 16 ao 20 sublinhando as sutis afinidades entre os autores.

Les éditions Chandeigne são ousadas. Elas publicaram uma obra de 1.500 páginas, La Poésie du Brésil - Anthologie du XVIe au XXe Siècle, que apresenta as obras de 134 autores, desde os mitos ameríndios aos poetas concretistas do século 20. A tipografia é elegante e a programação visual, cuidadosa. Todos os textos são apresentados em versão bilíngue. Max de Carvalho, que organizou este monumento, traduziu os poemas para o francês com Magali de Carvalho e François Beauchamp. A poesia de um país não tem começo ou então seria preciso perscrutar os rabiscos no fundo das cavernas do período pré-histórico ou o vento das savanas. Para o Brasil, recuperar os primórdios de sua literatura é uma missão ainda mais inviável, porque os índios que habitavam as selvas antes da chegada dos portugueses não tinham escrita.
Max de Carvalho escolheu, no entanto, nos fazer ouvir, no início de sua antologia, os ecos das poesias índias. Sob o belo título Les Immémoriaux (Os Imemoriais), ele reagrupa lendas submersas ou cantos recolhidos entre xamãs pelos etnólogos. Alguns objetarão que os primeiros poetas do Brasil desprezavam a palavra indígena como um peixe despreza uma maçã e que eles eram mais influenciados pelas canções de gesta da Europa do que pelas tribulações do pássaro amarelo ou do grande peixe amazônico.
Isso não é absolutamente exato. Entre os primeiros poetas portugueses, encontram-se homens, jesuítas, sobretudo - por exemplo, o apóstolo do Brasil, o grande José de Anchieta (1534-1597) -, que falavam o guarani. Anchieta é conhecido pelos sermões furiosos equivalentes aos de Bossuet no século seguinte. Ele também escrevia poemas poderosos. Um dia, na condição de refém voluntário dos índios tamoios, ele escreveu na areia de uma praia, com a ponta de seu cajado, um poema de 6 mil versos, os quais decorou e posteriormente transcreveu. Alguns consideram essas caligrafias de areia como o primeiro poema do Brasil.
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