sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Superstição

Imagem: Google

 As almas, como as flores, no lugar
 Em que viveram deixam, longamente,
 Sua íntima essência errando no ar,
 Numa vaga fluidez reminiscente...

 Vede essas velhas casas que, a passar
 Pelos olhos do tempo indiferente,
 Foram o sereníssimo ambiente
 De uma longa história familiar!...
 Há no seu gênio obscuro, misteriosas
 Influências humanas, insensíveis
 Contágios de alma que não percebemos,
 Frias fatalidades traiçoeiras
 Adormecidas no silêncio antigo...

 Exalam do segredo das entranhas
 Forças sutis e sugestões estranhas
 Que nos descem ao fundo dos sentidos
 E se vão infiltrando, lentamente,
 Na alma dos visitantes distraídos...

Ao lhes transpormos as sombrias portas,
Nunca sabemos o que nos espera
Nesses tristes jardins de sombras mortas
Fantasmas de uma antiga primavera...
Dentro tudo morreu... mas, presa a um fio Intangível,
Uma vida fantástica, invisível
Vive em essência no ar sonâmbulo e vazio...

As almas, como flores, no lugar
Em que viveram deixam, longamente,
A sua exalação errando no ar,
Numa vaga fluidez reminiscente...
Raul de Leoni

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