segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sinhá, de Chico Buarque e João Bosco


Se a dona se banhou
Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor
Eu não olhei Sinhá
Estava lá na roça
Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça
Nem enxergo bem.

Para que me pôr no tronco
Para que me aleijar
Eu juro a vosmecê
Que nunca vi Sinhá
Por que me faz tão mal
Com olhos tão azuis
Me benzo com o sinal
Da santa cruz.

Eu só cheguei no açude
Atrás da sabiá
Olhava o arvoredo
Eu não olhei Sinhá
Se a dona se despiu
Eu já andava além
Estava na moenda
Estava para Xerém.

Por que talhar meu corpo
Eu não olhei Sinhá
Para que que vosmincê
Meus olhos vai furar
Eu choro em iorubá
Mas oro por Jesus
Para que que vassuncê
Me tira a luz.

E assim vai se encerrar
O conto de um cantor
Com voz do pelourinho
E ares de senhor
Cantor atormentado
Herdeiro sarará
Do nome e do renome
De um feroz senhor de engenho
E das mandingas de um escravo
Que no engenho enfeitiçou Sinhá.

3 comentários:

  1. Olá,
    Achei esse blog enquanto procurava conteúdos do Chico. Muito bacana postagem!
    Abraços,
    Zuza Zapata
    www.zuzazapata.com.br

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Zuza Zapata, e bem vindo ao blog.
    Um grande abraço!
    Elilson José Batista

    ResponderExcluir
  3. Dei uma olhada no seu sítio e gostei do que (ou)vi. Mande material para divulgação! O Rapadura Cult está à sua disposição.
    Um abraço!
    Elilson J. Batista

    ResponderExcluir