segunda-feira, 26 de março de 2012

Escusa

Eurico Alves, poeta baiano,
Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito,
Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant’Ana.

Sou poeta da cidade,
Meus pulmões viraram máquinas inumanas e aprenderam a respirar o 
[gás carbônico das salas de cinema.

Como o pão que o diabo amassou.
Bebo leite de lata.
Falo com A., que é ladrão.
Aperto a mão de B., que é assassino.

Há anos que não vejo romper o sol, que não lavo os olhos nas cores 
[das madrugadas 

Eurico Alves, poeta baiano,
Não sou mais digno de respirar o ar puro dos currais da roça.

Manuel Bandeira, in Estrela da Vida inteira

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