quarta-feira, 30 de novembro de 2011

         “O que perturba os homens não são as coisas, e sim as opiniões que eles têm em relação às coisas. A morte, por exemplo, nada tem de terrível, senão tê-lo-ia parecido assim a Sócrates. Mas a opinião que reina em relação á morte, eis o que a faz parecer terrível a nossos olhos. Por conseguinte, quando estivermos embaraçados, perturbados ou penalizados, não o atribuamos a outrem, mas a nós próprios, isto é, às nossas próprias opiniões”. 
Epicteto, in Manual

Charge, de Frank



Início de Clássicos da Literatura






Notas do subsolo é um marco no grandioso conjunto de obras que Dostoiévski legou à humanidade. Dotado de um humor mordaz, provocativo e desafiador, este livro introduz as idéias de moral e política que o escritor mais tarde abordaria nas obras-primas Crime e Castigo e Os irmãos Karamazóv. Sua idéia de "homem subterrâneo" legou à ficção européia moderna um dos seus principais arquétipos, encontrado também em Kafka, Hesse, Camus e Sartre: o anti-herói morbidamente obcecado com a sua própria impotência de lidar com a realidade que o cerca.
Esta obra, publicada inicialmente na revista Epokha, editada por Dostoiévski e por seu irmão Mikhail, traz em si várias discussões filosóficas. Dividida em duas partes, é um autoflagelante monólogo no qual o narrador, um rebelde contrário ao materialismo e ao conformismo, discute sua visão negativa do mundo e aborda as principais questões do seu tempo, constituindo uma narrativa de uma intensidade incomum.

O amor, quando é maduro e bem-gostado, é feito bambu de lagoa: pode envergar, mas não tomba.

Ouvi dizer que paixão
É um salto duplo e mortal
De um amor aventurado
Pulando em riba um do outro
Às cegas e embriagado.
Paixão blu-blu-amoreco
Paixão pom-pom vermelhado
Paixão bolinho-com-Fanta
Paixão xaxim-aguado
Paixão arranca-porteira
Paixão do quengo-virado
Paixão ninho-de-vexame
Paixão demônia, vulcânica
De brasa, de gamação
Contramãozinha-em-paixão
Paixão de baú guardado.
A nossa era pura e alva
Feito delírio de lírio
De fuloreio nevado:
Um letreirão luminoso
De branco sebo-lavado
Com graça, luz e perfume
Sem voragem de ciúme
Sem desfavor, sem pecado.
Mas num regaço de um dia
O marimbondo da cisma
Trouxe um ferrão venenado:
Brigamos de teimosia
E ouvi daquela Maria
Este toró macriado:
 “Paixão é feito fumaça
Embaça o zói e sufoca
Quando da fé, ela passa!”
Ao ver suas nádegas gêmeas
Por capricho se afastar
Meu picadeiro da insônia
Tornou-se sala-de-estar.
Eu era casca de alpiste
Fora do cocho, assoprada
Imprestável pra semente
Pra bico da passarada
E ela, uma margarida
Dessas de plástico sem vida
De folha dura aramada.
De corpo manco, incompleto
Inflei meu orgulho reto
Pra disfarçar meu saci
Me aboletei na boleia
Duma marinete véia
Que transporta o Cariri.
Mas, no agá do vambora,
Sem nem saber pr`onde ir
Chegou em riba da hora
Com mil nasceres de aurora
Uma carta de peraí.

Jessier Quirino

Viena é melhor cidade do mundo para se morar

A excelente infraestrutura de Viena, as ruas seguras e o bom serviço público de saúde fazem da cidade o melhor lugar do mundo para se morar, disse o grupo de consultoria Mercer em uma pesquisa mundial que colocou Bagdá em último lugar.
Cidades alemãs e suíças se destacaram na lista de melhor qualidade de vida, com Zurique, Munique, Dusseldorf, Frankfurt, Genebra e Berna entre as primeiras 10. Nenhuma cidade do Brasil ou da América do Sul é citada na pesquisa.
A capital austríaca, Viena, com suas belas construções, parques públicos e rede extensa de ciclovias, reduziu recentemente o custo de sua passagem anual de transporte público para 1 euro por dia.
Crimes graves são raros e a cidade de cerca de 1,7 milhão de habitantes geralmente está entre as melhores nas pesquisas mundiais para qualidade de vida.

Mas a Mercer alertou que as cidades europeias que estão no topo do ranking não deveriam deixar de se preocupar após receberem uma boa classificação no ranking, que avaliou mais de 200 cidades.
"Elas não estão imunes a uma redução no padrão de vida se a turbulência econômica persistir", disse o pesquisador da Mercer, Slagin Parakatil, no site da empresa.
A Mercer, que também classificou as cidades segundo o quesito de segurança pessoal, deu uma avaliação ruim para Atenas devido aos confrontos entre manifestantes e policiais e a instabilidade política.
"Em 2011, Atenas está entre as piores no ranking de segurança pessoal entre as cidades europeias", disse Parakatil.
Oslo também caiu para o 24o lugar em outra avaliação de segurança por conta do massacre cometido por Anders Breivik, em julho. Geralmente, a cidade estaria entre as primeiras 15, disse a empresa de consultoria.
A instabilidade política em Bagdá, a segurança pública ruim e os ataques contra moradores locais e estrangeiros fazem da cidade o pior lugar do mundo para se morar em 2011, tanto em termos de qualidade de vida quanto em termos de segurança, segundo a pesquisa.
A instabilidade política e econômica na África e no Oriente Médio também foi responsável pela queda nas avaliações dessas regiões.
"Muitos países como a Líbia, o Egito, a Tunísia e o Iêmen tiveram uma queda considerável nos índices de qualidade de vida", disse Parakatil.
"A reconstrução política e econômica nesses países, junto com o financiamento que servirá às necessidades humanas básicas, certamente impulsionarão a região."
Ele disse que apesar de a perspectiva ser incerta para a maior parte do mundo devido à turbulência econômica e política, cidades na Ásia-Pacífico pareciam ter se beneficiado graças à estabilidade política e ao crescimento sustentado.
Auckland, Sydney, Wellington, Melbourne e Perth ficaram entre as 20 melhores para qualidade de vida em 2011, enquanto Cingapura foi a cidade asiática mais bem avaliada, em 25o lugar.
As 10 melhores cidades para qualidade de vida, segundo a pesquisa Mercer:
1 Viena (Áustria)
2 Zurique (Suíça)
3 Auckland (Nova Zelândia)
4 Munique (Alemanha)
5 Dusseldorf (Alemanha)
5 Vancouver (Canadá)
7 Frankfurt (Alemanha)
8 Genebra (Suíça)
9 Berna (Suíça)
10 Copenhague (Dinamarca)

"A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente."
Machado de Assis

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Hoje faz dez anos de morte do beatle George Harrison

Sempre apaixonado pela música, mas quase nunca à vontade em um palco. Assim se definia o ex-beatle George Harrison. Dez anos depois de sua morte, que se completam nesta terça-feira (29), o integrante mais enigmático do grupo volta a ser o centro das atenções neste dia em que fãs e admiradores prestam homenagens ao redor do mundo --ainda que ele já tenha dito um dia: "a fama não é o meu objetivo". 
Com a mulher, Olivia, e o filho, Dhani, ao seu lado, George Harrison morreu aos 58 anos de idade numa quinta-feira em Los Angeles, após uma luta de quatro anos contra um câncer no pulmão. Nos últimos anos de vida, Harrison trabalhava de forma discreta. "Ocasionalmente faço uma música nova, mas não posso me considerar realmente um indivíduo dedicado à carreira", disse ele ao "USA Today" um ano antes. "Basicamente, eu sou um jardineiro".  
Mesmo durante a explosão dos Beatles, Harrison era sempre tido como o integrante mais tímido e silencioso. Quando entrou no Hall da Fama do Rock and Roll, em 1988, até ironizou: "Não tenho muita coisa a dizer porque sou o beatle calado".
Certa vez, a viúva do guitarrista, a mexicana Olivia Harrison, disse que o músico sofreu tanto estresse ao ser perseguido por fãs e pela imprensa na época dos Beatles que optou pela reclusão. "Ele passou o resto de sua vida viajando pelo mundo para encontrar um paraíso tranqüilo, longe de seu status de celebridade", disse ela, que se casou com Harrison em 1978. 
Harrison deixou obras-primas em seu legado, como a cultuada "Something", uma inesquecível balada do disco "Abbey Road" (1969). E vieram também dele "Taxman", "While My Guitar Gently Weeps", "If I Needed Someone" e "Here Comes the Sun".  
Mas foi na música indiana que ele se encontrou espiritualmente e achou um caminho de afirmação artística para se destacar de John Lennon e Paul McCartney, num momento em que começava a sofrer os efeitos da asfixiante fama do grupo. Introduziu a cítara no rock e um toque indiano em músicas como "Norwegian Wood" e "Within You Without You". 
Mesmo após a dissolução dos Beatles, Harrison também se destacou em carreira solo: logo em sua estreia, lançou o álbum triplo "All Things Must Pass" em 1970, o primeiro trabalho de um ex-beatle a entrar em primeiro lugar nas paradas. Conhecido também pela generosidade, Harrison organizou dois concertos beneficentes em 1971 para os refugiados famintos de Bangladesh.  
Em 1974, ele se tornou o primeiro beatle a fazer sozinho uma turnê mundial. E, após uma pausa, retornou em 1988 com o álbum "Cloud Nine". Harrison se juntou a Bob Dylan, Roy Orbison, Tom Petty e Jeff Lynne no primeiro dos dois álbuns do Traveling Wilburys. Nos anos 90, fez poucas empreitadas musicais, entre elas a colaboração para o "Beatles Anthology" e a reedição do seu próprio catálogo de obras.   
Um dia após a morte de Harrison, a sua família divulgou um comunicado: "Ele deixou este mundo da mesma forma em que nele viveu, consciente da presença de Deus, sem medo da morte e em paz, rodeado pela família e pelos amigos".



Fonte: musica.uol.com.br

Charge, de Clayton



"Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade."
Confúcio

Todas elas juntas num só ser


Não canto mais Babete nem Domingas,
nem Xica nem Tereza, de Ben Jor;
nem Drão nem Flora, do baiano Gil,
nem Ana nem Luiza, do maior;
já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara de Chico;
nem Yoko, a nipônica de Lennon,
nem a cabocla de Tinoco e de Tonico.
Nem a tigresa nem a Vera Gata
nem a branquinha de Caetano;
nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
nenhuma continua nos meus planos;
nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
nem Anna Júlia do Los Hermanos.
Só você,
hoje eu canto só você;
só você
que eu quero porque quero, por querer.
Não canto de Melô Pérola Negra,
de Brown e Herbert, nem uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
nem a Iaiá também, nem minha faceira;
de Dorival, nem Dora nem Marina
nem a morena de Itapoã;
divina garota de Ipanema,
nem Iracema, de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
de Michael Jackson, nem a Billie Jean;
de Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
das doze deusas de Edu e Chico;
até das trinta Leilas de Donato
e da Layla, de Clapton, eu abdico.
Só você,
canto e toco só você;
só você,
que nem você ninguém mais pode haver.
Nem a namoradinha de um amigo
e nem a amada amante de Roberto;
e nem Michelle-me-belle, do beattle Paul,
nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg,
nem, de Totó, na malafemmená,
nem a Iaiá de Zeca Pagodinho,
nem a mulata mulatinha de Lalá;
e nem a carioca de Vinícius
e nem a tropicana de Alceu
e nem a escurinha de Geraldo
e nem a pastorinha de Noel
e nem a namorada de Carlinhos
e nem a superstar do Tremendão
e nem a malaguenha de Lecuona
e nem a popozuda do Tigrão.
Só você,
hoje elejo e elogio só você;
só você,
que nem você não há nem quem nem quê.
De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
de Mário Lago e Ataulfo Alves,
não canto nem Emília nem Amélia,
nenhuma tem meus ''vivas'' e meus ''salves''!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
e nem Roxanne, de Sting, do Police;
e nem a mina do mamona Dinho
e nem as mina ? pá! - do mano Xiz!
Loira de Hervê, Loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro Rei, o do Baião;
nenhuma delas hoje cantarei,
só outra reina no meu coração:
Só você,
rainha aqui é só você;
só você,
a musa dentre as musas de A a Z.
Se um dia me surgisse uma moça
dessas que, com seus dotes e seus dons,
inspira parte dos compositores
na arte das palavras e dos sons,
tal como Madallene, de Jacques Brel
ou como Madalena, de Martinho
ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry
ou a manequim do tímido Paulinho
ou como, de Caymmi, a moça prosa
e a musa inspiradora Doralice;
se me surgisse uma moça dessas,
confesso que eu talvez não resistisse;
mas, veja bem, meu bem, minha querida,
isso seria só por uma vez.
Uma vez só em toda a minha vida,
ou talvez duas, mas não mais que três!
Só você,
mais que tudo é só você;
só você,
as coisas mais queridas você é:
Você pra mim é o sol da minha noite,
é como a rosa luz de Pixinguinha;
é como a estrela pura aparecida,
a estrela a refulgir do Poetinha;
você, ó flor é como a nuvem calma
no céu da alma de Luiz Vieira;
você é como a luz do sol da vida
de Stevie Wonder, ó minha parceira.
Você é pra mim o meu amor
crescendo como mato em campos vastos;
mais que a Gatinha pra Erasmo Carlos,
mais que a cigana pra Ronaldo Bastos,
mais que a divina dama pra Cartola,
que a domna pra Ventadorn, Bernart;
que a Honey Baby para Waly Salomão
e a Funny Valentine para Lorenz Hart!
Só você,
mais que tudo e todas, é só você;
só você
que é todas elas juntas num só ser!

Composição: Lenine e Carlos Rennó

750 mil livros para download

Open Library é um projeto sem fins lucrativos do Internet Archive e da Fundação Austin. O projeto consiste na disponibilização crescente de milhares de livros para download legal ou leitura on-line. Atualmente são 750 mil exemplares e, embora a língua predominante seja a inglesa, podem ser encontrados livros em cerca de 40 idiomas. Também faz parte do acervo preciosidades históricas dos séculos 15, 16, 17 e 18. Para acessar: http://bit.ly/cPvcIT.

Animação com areia*

*Veja a fantástica performance da artista ucraniana Kseniya Simonova usando as mãos para desenhar linhas e formas apenas com areia, em cima de uma mesa.

Inédito, no Rapadura Cult*

Arquivo Morto


Meu coração é um livro de memórias,
Um calhamaço de amores vagos,
Composto de capítulos aziagos,
De esperanças frustradas e inglórias.

Um caderno de páginas irrisórias,
Em que o destino, de poucos afagos,
Escreve, inexorável, os estragos,
Causados por paixões contraditórias. 

Uma obra que guarda em seus volumes,
Fascículos de mágoas e ciúmes,
Tomos de desgosto e de despeito, 

Um romance de dores e ressábios,
Esquecido em velhos alfarrábios,
Nos baús antigos do meu peito.

Zenóbio Oliveira, escritor e radialista mossoroense. 

A compaixão mata

         “O sentimento que o homem mais dificilmente suporta é a compaixão, sobretudo quando a merece. O ódio é um sentimento tônico, faz viver, inspira a vingança; mas a compaixão mata, enfraquece ainda mais a nossa fraqueza”.
Honoré de Balzac, in A Pele de Onagro

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As Belezas em segundos

Quantas palavras você consegue dizer em um segundo? Não muitas, acredito. Mas o One-Second Film Festival prova que em vídeo é possível explorar diversas emoções em um curtíssimo espaço de tempo.
A competição foi criada pela Mont Blanc para celebrar a invenção do cronógrafo há 190 anos, e os participantes tinham que enviar seu vídeo de um segundo mais bonito. A ideia era celebrar “a frágil beleza desta unidade tão curta de tempo”.
O que soa extremamente pedante e pretensioso é verdade. No entanto, o site dedicado ao evento é melhor, e não é irritante passear por ele. Mas o bacana é que as melhores gotas de vídeo foram editadas juntas no clipe acima, e você deve assistir isso agora mesmo.
Eu fico impressionado com o tanto de informação que alguns conseguiram colocar em um só segundo, e o tanto de emoções e sensações que você pode ter em um curto espaço de tempo. Desde celebrações da vida, passando por miséria, amor, felicidade, indo para as belezas da tecnologia e da natureza, tudo está lá. Até mesmo um cara abrindo um carro com bolas coloridas (0:17, veja só).
Se você quiser participar da competição, ainda há tempo. Principalmente pelo tamanho do vídeo que deve ser entregue. [Mont Blanc via This is Colossal via Boing Boing]



Fonte: www.gizmodo.com.br

"A espécie de felicidade que me falta, não é tanto fazer o que quero mas não fazer o que não quero."
Jean Jacques Rousseau

Wave*


*Bossa Nova? Jazz? É a musicalidade universal desse imortal Dominguinhos, com o auxílio luxuoso de Yamandu Costa, fenômeno do violão, que afirmou: "Reaprendi a tocar com Dominguinhos".

Um disco fundamental da MPB

Pixinguinha
5 Companheiros - 1961

A diferença econômica entre países, ou seja, os ricos e os pobres, ou o que chamo de países classe media, aqueles que não são nem ricos nem pobres, mas sobrevivem num ritmo de crescimento ínfimo iludindo-se sempre com as promessas de seus dirigentes achando que eles imbuídos de boas intenções irão resolver seus problemas quando na realidade estão mais preocupados consigo mesmos fazendo da população massa de manobra para atingirem seus objetivos, a maioria escusos, e em nosso caso particular, político honesto no Brasil é uma mercadoria tão escassa que não anda dando sopa por aí, sendo necessário uma pesquisa muito grande, exaustiva até para ver se se encontra algum, portanto, esse imenso fosso que separa os de classe A dos de classe B ou C acaba interferindo no seu processo de desenvolvimento e divulgação cultural acarretando na maioria das vezes uma imagem preconceituosa de seus artistas, protagonizadores do ato cultural que acabam ficando estereotipados como seres exóticos de um pais primitivo ou encastelados em suas próprias fronteiras sendo que até nelas o reconhecimento muitas vezes lhes é negado.
Em nosso país existem muitos exemplos de artistas que não conseguiram uma projeção a altura de seu valor, já outros conquistaram platéias internacionais, mas, contraditoriamente, não se tornaram reconhecidos aqui e por fim há uma última classe onde se encontram aqueles que de tão fantásticos celebrizaram-se em suas próprias fronteiras mas o preconceito ou esse desnível econômico que dificulta uma maior penetração de sua arte em escala planetária não deram a eles a dimensão internacional que mereciam.
Mas esse é um processo que já conhecemos e verificamos que sua extensão diminui na medida em que passamos a ser vistos e respeitados como um país classe média, ou em desenvolvimento como querem alguns, ou até mesmo em função das mudanças ocorridas na humanidade em decorrência do avanço dos meios de comunicação que acaba desaguando no que alguns chamam de globalização, mas que eu prefiro cunhar como mundialização, o que aparentemente não é a mesma coisa, mesmo que assim pareça, já que o primeiro pressupõe que seus efeitos acabam ocorrendo em função dos problemas ocasionados pelos mais fortes não impedindo nem diminuindo o imperialismo cultural, enquanto que o outro busca unicamente a unificação e reconhecimento dos povos através da sua própria cultura.
Deixando agora um pouco de lado essas questões cujas análises reflexivas merecem um espaço maior do que esse que dispomos mas buscando integrá-los em nosso objeto aqui representado, verificaremos que se o Brasil a partir do advento da república, apenas para situarmos um marco definidor de tempo, estivesse num patamar de desenvolvimento econômico que lhe permitisse penetrar em outros espaços divulgando com mais vigor sua arte, artistas como Pixinguinha, por exemplo, teriam seu valor e sua obra reconhecidos mundialmente, já que, não se deve fazer comparações mas aqui me arrisco a fazê-la, se Louis Armstrong foi o homem que elevou o jazz nos Estados Unidos a uma condição de grandeza e representatividade da cultura americana jamais superada, o nosso Alfredo da Rocha Viana Junior, o fez com a mesma competência no Brasil, somente não alcançando as glorias universais e divulgando nossa musica, e aqui exclui-se uma única excursão feita por ele e os 8 Batutas em 1922 a Paris, onde fizeram, sucesso, mas foi apenas um adendo em sua trajetória, pelo simples fato de ter nascido num país pobre que ainda não tinha atingido o status de classe média. Contudo, para nós, ele é e sempre será referencia obrigatória, um gênio da raça. Sua discografia não é das maiores, mas registra discos 78 rotações e LPs memoráveis como o lançado em 1961 intitulado 5 Companheiros, em que com seu saxofone se faz acompanhar ao lado de quatro grandes solistas, Abel Ferreira, clarinete; Pedrinho, flauta; Silva Leite, trombone e Irany Pinto, violino, secundados no acompanhamento por Gesse e Nelson, violões; Salvador, pandeiro; Waldemar Melo, cavaquinho; Cavalo Marinho, contrabaixo e J. Cascata na percussão.
O repertório é formado por choros da autoria de Pixinguinha, e dele com Benedito Lacerda, todos clássicos, Um a zero, Naquele tempo, Proezas de Sólon, Segura ele, Sofre porque queres, Vou vivendo, Tapa buraco, Ingênuo, Cinco companheiros, Lamento, Cochicho e Chorei. Trata-se de uma verdadeira antologia da musica popular brasileira em que se pode observar o virtuosismo de grandes artistas sob o comando de um mestre inigualável, um musico completo, já que foi instrumentista, compositor, orquestrador, cantor e maestro.
Ouvir Pixinguinha é reverenciar o que nosso país tem de melhor em termos de musica popular e reconhecer com orgulho a grandeza de um homem que soube traduzir de modo definitivo a essência mais intima de nossa gente, um ser extremamente Carinhoso com seu país cuja obra vem sendo recuperada em uma caixa com todos os seus discos produzidos por seu filho. Finalmente Pixinguinha entra na era digital, e será que ele que fazia choro por qualquer motivo batizando-os com os nomes mais corriqueiros não faria um intitulado, Os Cds do Pixinguinha? Com certeza, pois assim era o mestre, patrono e referencia de todos os músicos populares desse país.
Luiz Américo Lisboa Junior, in www.luizamerico.com.br

Charge, de Amorim


Uma caixa de Maizena


“A mercearia dos meus pais era pequena – chamávamos de 'bodega' – mas nela vendíamos um pouco de tudo, principalmente gêneros alimentícios.
Digo 'vendíamos' porque a família toda participava, principalmente depois que meu pai recuperou o emprego e minha mãe ficou à frente dos negócios. Como de manhã eu ia à escola, ajudava no comércio à tarde, enquanto meu irmão fazia o contrário, estudava à tarde e trabalhava pela manhã.
Às vezes minha mãe saía para fazer compras ou pagar fornecedores e eu assumia a gerência do estabelecimento. Tinha uns dez anos de idade, mas fazia tudo direitinho: vendia, passava troco, empacotava as mercadorias e ainda prestava contas de tudo, quando minha mãe chegava.
Uma das poucas coisas que eu achava complicado era vender maisena, porque as caixas ficavam na prateleira mais alta e eu tinha um pouco de acrofobia, aliás, tenho até hoje. Naquela época, com menos de um metro e meio de altura, tudo me parecia mais alto.
Para minha desventura, havia uma senhora, chamada Dona Santana, que morava quase em frente à mercearia e toda tarde ia até lá comprar maisena para o jantar dos seus filhos. Eram doze, ao todo, mas acredito que só uns quatro ou cinco – ainda pequenos – tomavam mingau. Os maiores já podiam cuidar de si mesmos.
Quando ela entrava na mercearia, sempre por volta das quatro da tarde, eu sentia um frio na barriga. Sabia que logo precisaria subir no birô que havia perto do balcão, apoiar o pé em uma prateleira – como quem pisa no estribo de um cavalo – me segurar em outra, com a mão esquerda, e esticar o braço direito, até alcançar uma das caixas. Lá de cima, jogava a caixa de maisena dentro do saco do arroz ou da farinha, para ter as mãos livres novamente na descida.
Às vezes Dona Santana fazia um pouco de suspense, pedindo outras coisas: um ovo, duas colheres de manteiga, três colheres de colorau, meio pacote de café… Mas o pedido final era sempre o mesmo:
- Agora, me dê uma caixa de Maizena.
E lá ia eu, com o coração acelerado, prendendo a respiração e subindo pelas prateleiras, enfrentando o medo que tinha daquelas escaladas.
Mas, nunca deixei de atender Dona Santana por isso. Só ficava chateado quando, depois que eu descia com a mercadoria, ela olhava para a caixa amarela sobre o balcão e dizia:
- Meu filho, me dê logo duas”.

Marcos Mairton – Contos, Crônicas e Cordéis, in Besta Fubana

Amor é um fogo que arde sem se ver

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões, in Sonetos

"O louvor vale pela pessoa que o dá."
Miguel de Cervantes

domingo, 27 de novembro de 2011

Como é feita a previsão do tempo em Portugal



Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?

“Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos – mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos – são os que mais tarde se compreendem: as gerações que lhes são contemporâneas não vivem esses acontecimentos, - passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali – existam estrelas. ‘Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?’ – aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela”.

Friedrich Nietzsche, in Para Além de Bem e Mal

Falas inesquecíveis do cinema

"You can't handle the truth!"
Tradução: Você não suportaria a verdade!
Filme: Questão de honra (A Few Good Men, 1992)

Quem diz: Coronel Nathan R. Jessep (Jack Nicholson).



As Castanhas de Titio

Foto: Elilson Batista

Há figuras, tipos marcantes na vida pacata das pequenas cidades interioranas. E vos apresento um dos tais: Raimundo..., dito o Titio. Moreno, baixinho, bom de conversa e de lorota, companheiro tão-só para os pagodes e pândegas triviais, do diário.
E vai que, em uma tranquila manhã serrana de Portalegre, apareceu Titio no mercadinho de Palé, produtor e também comprador de castanhas. Raimundo trazia duas bastas sacolas de castanhas para negociar com Palé. E foi logo perguntando:
- Palé, por quanto você compra o quilo da castanha?
- A noventa centavos, respondeu o negociante, já cismado ao avistar o novato vendedor, e perguntou de rompante:
- Titio, onde você arrumou essas castanhas?
E Raimundo, mostrando indignação:
- Por quê?
- Eu tou conhecendo elas. E são do meu terreno. Você não tem terras, não tem cajueiros, e mora vizinho ao meu terreno lá no Sítio Pelo Sinal, então...
E Titio, mais indignado ainda:
- Olha, Palé, eu vim pra negociar e não pra brigar! Se você não quer comprar, tem quem compre! Vou vender a Raminho e, se quiser, entre na justiça pedindo o DNA das castanhas. E agora só vendo as castanhas por 1 real o quilo!
Entre perder os lucros para o atravessador rival daqueles frutos-reis que pareciam, quiçá, escolhidos, Palé, num ranger de dentes e num esforço descomunal, comprou as próprias castanhas, agora no preço do vendedor.
E Titio saiu todo célere, o Conquistador, rumo ao Bar da Praça, para iniciar os trabalhos do dia.
Elilson José Batista, in Inéditos & Afins

Níquel Náusea



Orcrítica

A crítica de arte é orquídea,
pequeno testículo da arte.
Sua seiva não vem da raiz,
mas do caule onde se prega.
A orquídea também é assim:
mais bela que o tronco onde se agarra.
O tronco, nem beleza ostenta.
Sustenta a beleza da flor.
E a flor é uma parasita bela.
A crítica, uma bela parasita.

François Silvestre, escritor potiguar