quarta-feira, 29 de junho de 2011

          “Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia se abstrair desses acasos; poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista, sem se preocupar com a resposta (como Deus é sua etimologia – o Fetiche não responde). Mas precisamente: Werther é perverso, ele está apaixonado: cria sentido, sempre, em toda a parte, de coisa alguma, e é o sentido que o faz arrepiado: ele está no braseiro do sentido. Todo contato, para o enamorado, coloca a questão da resposta: pede-se à pele que responda.
(pressão de mãos – imenso dossiê romanesco -, gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido)”.
Roland Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso

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